As pessoas possuem diferentes conceitos e achismos quando pensam no famigerado HIV, o agente causador da AIDS: principalmente ao considerarmos a idade da pessoa, e o respectivo testemunho dela quanto ao momento histórico da pandemia no mundo.
Se você, leitor deste blog, tiver idade suficiente para lembrar, saberá que o surgimento e a disseminação do HIV/AIDS foi um dos momentos que mais marcaram a década de 1980, junto com a queda do muro de Berlim, e o Maradona fazendo um gol de mão contra a Inglaterra na Copa do Mundo de 1986.
Infelizmente, aqueles que foram os primeiros infectados pelo vírus nessa década também carregaram o fardo de serem as primeiras vítimas fatais a sofrerem com a condição da AIDS: aparecimento das infecções oportunistas, manchas na pele, insuficiência respiratória, magreza extrema, e outros horrores que antes só eram vistos em casos raros de imunodepressão causada por canceres ou enfermidades atípicas.
Sem nenhuma chance de cura, levando o indivíduo para um continuo definhamento até à morte, esse período foi realmente triste, principalmente devido às populações vulneráveis que eram atingidas, sendo elas marginalizadas ao invés de terem o suporte dos responsáveis por cuidar delas: os tomadores de decisões.
Seja investigando o fenômeno biológico e descobrindo os fatores associados à transmissão, seja uma intensa vigilância epidemiológica de casos da doença, ou ainda os recursos médicos para melhorar a qualidade de vida dos infectados e doentes, as medidas de investigação e controle da AIDS demoraram a aparecer, facilitando assim a sua dispersão pelo mundo.
Passados quase 40 anos dos primeiros casos da década de 1980, até hoje ainda existem alguns preconceitos e tabus a respeito do HIV, mesmo sabendo que muita coisa mudou de lá para cá: por exemplo, a condição AIDS passou a ter tratamento e cura.
Para entendermos isso, temos que saber diferenciar o HIV e a AIDS: o primeiro é o Vírus da Imunodeficiência Adquirida (sigla em inglês), que infecta seres humanos através de sexo desprotegido, compartilhamento de seringas contaminadas, ou pela transmissão da mãe para o filho durante o parto.
O segundo termo é a sigla para a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (em inglês), que representa o estágio final da manifestação clínica que a infeção pelo HIV proporciona: após muito tempo com o HIV se replicando no respectivo organismo, o sistema imunológico do indivíduo não possui mais um número suficiente de células de defesa, deixando assim o organismo susceptível para diversos parasitos e patógenos oportunistas, estes que não teriam chances de se proliferar em um organismo com um sistema imunológico normal.
Assim, é a infecção pelo HIV que causa a AIDS, isso depois de alguns anos portando o vírus no organismo (lembrando ainda que algumas pessoas podem ser infectadas pelo HIV e não manifestar sinais clínicos, nem desenvolver AIDS: os chamados assintomáticos).
Com o surgimento dos antirretrovirais nos anos 1990, a dinâmica do HIV/AIDS começou a mudar rapidamente, deixando assim de ser uma sentença de morte, tornando-se uma doença crônica controlável que demanda medicamentos que têm a função de reduzir a carga do vírus no organismo infectado.
Por assim, se o indivíduo nos dias de hoje estiver com um quadro clínico de AIDS ele pode ser curado, desde que vá para um hospital ou centro de saúde que possua os recursos necessários: nesse contexto, os médicos e profissionais de saúde irão administrar antirretrovirais ao paciente, diminuindo assim a sua carga virótica, consequentemente aumentando as células de defesas de seu sistema imunológico, livrando assim o indivíduo de ser infectado pelas doenças oportunistas.
Ou seja: curou-se a AIDS deste indivíduo, mas não a sua infecção pelo HIV.
Apesar dos remédios atualmente ficaram cada vez mais acurados e precisos, ainda não se descobriu nenhum antirretroviral que consiga livrar completamente o organismo hospedeiro do vírus, este ficando “latente” em alguns nódulos e aglomerados celulares, podendo assim aumentar o seu número caso o paciente deixe de tomar os antirretrovirais.
Existem também dois famosos casos da cura da AIDS, através de uma técnica bastante complexa, tanto que ela foi descoberta sem este propósito: transplante de medula óssea de um paciente doador que produza células de defesas sem receptores bioquímicos para o HIV.
A lógica do processo é maravilhosa: ao transplantar a medula óssea, tecido do nosso corpo que produz as células do nosso sangue - os glóbulos vermelhos e os brancos - o indivíduo que recebe a medula irá passar a produzir células de defesa sem o receptor bioquímico para o HIV, impedindo que o vírus infecte e se replique, resultando em uma pessoa imune ao vírus da AIDS.
Entretanto como dito, o processo é complexo, tanto que essa descoberta foi “sem querer”, pois no primeiro caso desta técnica o receptor tinha câncer na medula além de AIDS, por isso recebeu o transplante.
Por sorte (muita sorte, pois a mutação que permite que pessoas não tenham receptores em suas células de defesa para o HIV ocorre em uma probabilidade baixíssima) o doador que forneceu a medula para o transplante tinha esta imunidade ao HIV, assim a pessoa que recebeu sua medula passou a produzir células de defesa imunes ao vírus da AIDS.
O processo ainda é experimental, não é feito em larga escala ainda, por isso não se pode falar que a infecção pelo HIV tem cura.
Mas com o uso pleno dos antirretrovirais, a AIDS sim passou a ter tem cura.