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riscos do sexo anal

Quando, antes do ano de 1983, época que foi cunhado o termo Síndrome da ImunoDeficiência Adquirida (em inglês, Acquired ImmunoDeficiency Syndrome, anacrônico para AIDS), a doença ainda era chamada de “câncer gay” ou “peste gay”, para a época tal designação refletia uma grande ignorância de nós, os seres humanos, perante os fenômenos biológicos em que estamos inseridos.

Só depois de muitos estudos observacionais e epidemiológicos, além do bom senso da comunidade médica e científica, é que a doença mudou de nome.

Essa limitação em restringir a AIDS apenas para homossexuais masculinos é resultado dos primeiros casos da doença, os quais eram observados nessa população: mas porque a doença teve esse início abrupto justamente nessa população, e não em homens e mulheres heterossexuais, ou mesmo em mulheres homossexuais?

Isso se deve a uma série de fatores, desde as propriedades fisiopatológicas do HIV (o vírus causador da AIDS), até do comportamento dos indivíduos.

Sabe-se que, necessariamente, homens que fazem sexo com homens realizam sexo anal, uma via de maior risco à transmissão para o HIV, do que os outros tipos de vias sexuais (vaginal e oral).

Ao contrário da vagina, muitas vezes o ânus pode não apresentar lubrificação suficiente, aumentando assim o atrito e fricção entre o pênis e a mucosa do canal anal, aumentando assim as possibilidades de ocorrência de lesões e demais machucados, isto proporcionando uma via direta para a infecção pelo HIV.

Com as mudanças comportamentais nessa população de homossexuais masculinos, os números começaram a cair, ao mesmo tempo que se aumentava a feminização da doença: ou seja, o HIV também é transmitido pelo sexo vaginal, entretanto as maiores incidências para o vírus ainda são os homens que fazem sexo com outros homens.

Por isso é que o sexo anal demanda atenção especial daqueles que se propõem fazer, principalmente o passivo, que está mais susceptível a sofrer alguma lesão ou machucado no decorrer do ato sexual, tendo assim maior probabilidade de ser alvo da infecção por este vírus.

E se para o HIV a via sexual anal possui essa elevada probabilidade, quando comparado com as outras vias (considerando ainda a ausência de proteção ou preservativo), para outros agentes infecciosos o ânus também pode ser uma porta de entrada (ou de saída).

A própria falta ou dificuldade de limpeza já pode ser considerada um fator importante que contribui para o risco, já que nas fezes se encontram muitos patógenos que podem ser transmitidos por relações sexuais sem proteção.

O vírus da Hepatite B, um dos mais comuns envolvidos na transmissão sexual, possui um índice de infectividade (ou seja, a capacidade do agente infeccioso de poder alojar-se e multiplicar-se dentro de um hospedeiro) maior do que o HIV, por exemplo, além de também poder apresentar uma carga viral maior nas fezes.

Tanto é verdade essa condição do vírus da Hepatite B que até o sexo oral quando realizado no ânus pode ser causa suficiente para ocorrer uma infecção (algo que, segundo os estudos, é bem menor provável que ocorra com o HIV).

Considerando outros vírus transmitidos durante relações sexuais, o HPV, a herpes e outros vírus oportunistas também são importantes agentes infecciosos que podem vir a fazer uso da via anal (quando não utilizada proteção).

Bactérias transmitidas sexualmente também fazem uso da via anal em seus processos infecciosos: clamídia, gonorreia, sífilis, todas essas possuem consideráveis riscos de transmissão em pessoas que praticam sexo anal sem proteção (seja o ativo ou o passivo).

Em especial na questão comportamental, o sexo anal pode ser considerado um tabu, dificultando possíveis esclarecimentos sobre suas práticas e riscos, o que faz aumentar o número de pessoas expostas a doenças sexuais transmitidas pela via anal.

O preservativo para o órgão masculino (a camisinha) é sempre recomendável na prática anal, pois protege tanto o ativo como o passivo de todos esses agentes infecciosos, entretanto vale descontruir um mito que muitos ainda acreditam: não se deve nunca usar duas camisinhas (uma sobreposta a outra) no sexo anal, já que o atrito entre as duas pode romper a proteção, deixando ambos os praticantes expostos.

O sexo seguro é a melhor maneira de curtir o momento – seja vaginal, anal ou oral – e o melhor é que evita as possíveis dores de cabeça e paranoias que podem surgir no dia seguinte (o famoso “day after”, termo em inglês para “o dia seguinte”, quando o fantasma do arrependimento vem nos perturbar, nos assombrando com possíveis doenças que podem ter sido transmitidas quando nós fazemos sexo sem proteção).

Já sabe: sempre que for praticar sexo, faça-o protegido, em especial se este for sexo anal.