O vírus da imunodeficiência humana VIH (ou como é mais conhecido: HIV - a mesma sigla só que em inglês), apesar de estar circulando entre seres humanos desde o começo do século XX (antes mesmo deste período até, como apontam alguns cientistas), foi só identificado na década de 1980, quando o número de infectados alcançou status de pandemia (ou seja: epidemia em mais de um continente).
Se antes, no começo do século passado, a sua circulação ficava restrita apenas na grande floresta tropical do Congo, como mostram muitos estudos envolvendo epidemiologia molecular do vírus, foi no período do pós-Segunda Guerra que o cenário passou a mudar significativamente: as fronteiras entre os países passaram a ficar cada vez mais reduzidas, seja pelo aumento do tráfego de seres humanos (principalmente por avião), seja ainda pelas novas tecnologias que resultaram em maior colaboração global, estreitando laços diplomáticos e económicos, assim aproximando ainda mais as nações do mundo (claro, algo que não impediu outras guerras ocorrerem em escalas menores, como a do Vietnã ou do Iraque).
A restrição do vírus na África era consequência da rica fauna da floresta congolesa, não apenas com espécies de símios mas também com os tipos patógenos circulantes: sabe-se que o HIV é parente do vírus da imunodeficiência símia (VIS, ou no inglês SIV), sendo que o contato entre humanos e macacos (por meio da caça ou alimentação) fez com que o vírus pulasse para o organismo humano, e assim se especializando em infectar a nossa espécie, fenômeno epidemiológico chamado tecnicamente de “spillover” (termo inglês para “transbordamento”, quando um patógeno sai de sua circulação natural e consegue se especializar em infectar organismos humanos).
Se por um lado a globalização pode ajudar a unir os povos e diminuir as fronteiras entre as nações (pelo menos em teoria), por outro lado a redução deste espaço tem as suas desvantagens, em especial no transito de patógenos causadores de enfermidades: depois que o HIV se especializou em infectar seres humanos, ele já estava pronto para dominar o mundo a partir das viagens internacionais.
As primeiras infecções foram identificadas já na década de 1970, mas só chamou mesmo a atenção dos profissionais e autoridades de saúde no início da década de 1980, época em que o nome do vírus foi definido, assim como a doença que ele causa (a Síndrome da Imuno-Deficiência Humana – SIDA, ou em inglês: AIDS), e outros aspectos da enfermidade, como a sua dinâmica de infecção, os fatores de risco para se infectar, testes sanguíneos para diagnóstico, etc.
Nesta altura do texto vale lembrar a diferença entre o HIV e a AIDS: enquanto o primeiro corresponde ao vírus (o agente causador), o segundo se refere à síndrome que ele causa, geralmente após anos de infecção e destruição das células de defesa do organismo, propiciando o surgimento das chamadas doenças oportunistas (outros vírus e bactérias que não afetam pessoas saudáveis, mas podem gerar agravos seríssimos em pacientes com o sistema imunológico debilitado).
Se ao longo da década de 1980 os cientistas produziram as informações para se evitar a propagação do vírus, infelizmente para os já infectados ainda não havia esperança: se um indivíduo na década de 1980 não tivesse a sorte de ser infectado pelo HIV e não desenvolver a AIDS (como ocorre em uma pequenina parte da população), aqueles que desenvolviam a doença tinham 100% de chances de morrer nos meses seguintes (a chamada taxa de letalidade).
Apesar de no final da década de 1980 já se identificar alguns fármacos que evitavam a multiplicação do vírus, só nos meados da década de 1990 é que chegou às prateleiras das farmácias o chamado coquetel anti-HIV: um conjunto de remédios antiretroviróticos que, quando tomados simultaneamente, impediam a proliferação do vírus, consequentemente diminuindo a carga do HIV, e voltando aumentar as células de defesa do organismo infectado.
O achado foi tão importante que mudou radicalmente o perfil da AIDS no mundo: se antes a doença era considerada letal, com o advento do coquetel a taxa de letalidade passou a diminuir, chegando a números baixíssimos já nos primeiros anos do século XXI.
Com o passar do tempo os antiretrovirais foram ficando cada vez mais efetivos e administrados em menores quantidades: enquanto que na década de 1990 o tratamento era composto por muitos comprimidos, conforme a tecnologia foi se aprimorando o número de pílulas foi diminuindo, melhorando assim a adesão do paciente, gerando resultados mais eficazes.
Com o contínuo avanço tecnológico o tratamento profilático para o combate ao HIV ganhou novas formas e estratégias, em especial dois métodos que se mostraram muito efetivos após as suas implementações: a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e a Profilaxia Pós-Exposição (PEP).
Como o próprio nome diz, a PrEP é o uso de remédios antiretroviais que impedem a replicação do HIV no organismo antes do indivíduo ser exposto ao vírus: esta barreira bioquímica pode ser importante profilaxia para serem usada por casais sorodiscordantes, assim como profissionais do sexo e de laboratórios que estão expostos a utensílios cortantes e perfurantes com sangue contaminado.
Já a PEP é o contrário: após a exposição ao HIV, é passado para o indivíduo antriretrovirais que vão impedir a replicação do vírus que (caso tenha se infectado) encontra-se dentro de seu organismo: além de focar os mesmo indivíduos citados no parágrafo acima, aqui o tratamento pode ser ampliado para outros grupos, desde que o indivíduo tenha entrado em uma situação de risco (seja por rompimento do preservativo, ou vítimas de estupro, entre outras situações complexas).
Apesar de apresentar efeitos colaterais (desde enjôo até vômitos e dores de barriga), normalmente o médico recomenda tratamento diário entre 15 e 21 dias, além de acompanhar testes do paciente em 30, 60 e 120 dias pós-exposição, para assim ter-se a certeza do diagnóstico negativo.
Conforme o país, estes remédios podem ser fornecido pelo próprio poder público de maneira gratuita (como o caso do Brasil que possuí uma das melhores políticas de saúde pública contra a AIDS), ou faz-se necessário comprar estes fármacos em farmácias e outros estabelecimentos particulares (tendo ainda alguns exemplos de países que o próprio governo vendo o remédio, com o preço subsidiado).
Podemos constatar que em aproximadamente 30 anos o cenário do HIV/AIDS no mundo mudou radicalmente, passando de uma doença incurável para uma crônica controlada por remédios (praticamente uma diabetes).
Mas não podemos perder o senso de importância do combate ao vírus, já que ele ainda custa muito para o sistema de saúde de um país, assim como para a força de trabalho que gera renda (isso fica evidente principalmente em populações dos países pobres).
A luta para vencer o HIV/AIDS ainda esta longe de ser vencida, mas todos nós temos que fazer a nossa parte: saiba que o PEP é um poderoso instrumento na guerra contra este vírus e a enfermidade que ele causa.